PROJETO POEMA, QUATRO

Loucura


Tudo cai! Tudo tomba! Derrocada

Pavorosa! Não sei donde era dantes.

Meu solar, meus palácios, meus mirantes!

Não sei de nada, Deuses, não sei de nada!...


Passa em tropeu febril a cavalgada

Das paixões e loucuras triunfantes!

Rasgam-se as sedas, quebram-se os diamantes!

Não tenho nada, Deuses, não tenho nada!...


Pesadelos de insônia, ébrios de anseio!

Loucura a esboçar-se, a enegrecer

Cada vez mais as trevas do meu seio!


Ó pavoroso mal de ser sozinha!

Ó pavoroso e atroz mal de trazer

Tantas almas a rir dentro da minha!


Florbela Espanca