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Destaques

Lygia Clark

     Artista brasileira, pinturas e performances sustentam as obras de Lygia; nascida na cidade de Belo Horizonte e falecida no Rio de Janeiro, vamos procurar por imagens:






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    ([...] O Rio de Janeiro conjuga em seu caráter certa singularidade, expressa no espírito do carioca, e certa pluralidade de características, que adquiriu por representar todo o país enquanto capital. Se hoje o visitante encontra na cidade vários dos regionalismos brasileiros, é porque, por muito tempo, ela, como centro da nação, recebeu gente de todos os cantos do país. O Rio correu o risco, com isso, de se despersonalizar e acabar no fim das contas parecendo e representando lugar nenhum. O espírito carioca, entretanto, é dotado de uma característica muito marcante: apropriar-se das coisas, produzindo releituras de tudo o que o alimenta e o inspira. Esse traço garante ao Rio de Janeiro e ao carioca uma relação de autenticidade com tudo que trava contato, mesmo que o elemento em questão seja estranho, estrangeiro. Esse impulso foi necessário quando a cidade, ainda nos séculos XVII e XVIII, já estava aberta ao mundo, fazendo comércio com diferentes países, garantindo sua autonomia e desenvolvendo seu cosmopolitismo. A partir do momento em que o Rio não mantém mais o seu caráter exclusivamente municipal e passa a exercer as funções de capital, foi necessário que os cariocas resistissem, se não na esfera política, ao menos na intelectual. Desde o século XIX, a literatura foi o espaço encontrado pelos intelectuais que, refletindo sobre a cidade, observavam que no mesmo espaço da cidade-capital conviviam vários lugares simbólicos que ora diziam respeito exclusivamente à cidade e ora refletiam a força da centralidade da capital. Essa e outras tensões foram registradas por cronistas que acompanharam os processos de modernização urbana do Rio de Janeiro no início do século XX. A imagem da cidade que se construía na literatura ganhou forma e vigorou como cidade das letras justamente porque efervesciam os encontros culturais e as experiências intelectuais nos mais diversos ambientes do centro da cidade, dos cafés aos teatros. Assim, a cidade maravilhosa era a cidade das letras, a cidade onde o centro e as suas sociabilidades – e não os bairros atlânticos e o lazer ao ar livre – eram destaque entre cariocas e estrangeiros. Na medida em que a literatura foi deixando de ser o terreno no qual se construíam as imagens da cidade e o Rio passou a se expandir e a se desenvolver no sentido da zona sul, a expressão cidade maravilhosa ganhou novo significado, que expressa, antes, as belezas naturais relacionadas à paisagem da cidade espraiada entre as montanhas e o mar. A natureza turística do Rio de Janeiro acompanhou essas mudanças e continua a confirmar essa nova visão da cidade, que as últimas décadas do século XX e os primeiros anos do século XXI seguem ratificando. [...])



COSTA, A., D., 2014, História e cultura urbana carioca: a natureza turística do Rio de Janeiro entre a cidade das letras e a cidade maravilhosa, JSTOR, disponível em: https://www.jstor.org/stable/pdf/10.7476/9788575114452.9.pdf, acesso em 05/07/2024.